Segundo Sebastião Brasil, professor da Unicentro (Universidade do Centro Oeste do Paraná), a disciplina de SIPA nos cursos é fundamental para estimular a integração e quebrar tabus já desmistificados pela pesquisa científica, como eventual compactação no solo causada por bovinos. “Esse conceito busca a ciclagem de nutrientes, em uma sinergia entre solo, planta e planta. Não há mais espaço para produção compartimentalizada”, apontou.
Para André Brugnano Soares, professor da UTFPR, os SIPAs são sistemas multifacetados, o que significa englobar conhecimentos de diversas áreas. “Não se ensina muito SIPAs nas universidades porque elas não adotam multidisciplinaridade.Precisamos pensar nisso, em estimular uma visão sistêmica e holística. Isso exige humildade, mudança de atitude para existir esse ensino transdisciplinar. Um exemplo bom é esse Congresso, que une todos que trabalham e estudam isso. Precisamos formar profissionais que saibam trabalhar nisso”, destacou.
Já Adriel Ferreira de Fonseca, diretor de pós-graduação na UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), contou a transformação que está sendo feita nos cursos de agronomia e zootecnia na universidade. “Identificamos algumas falhas na grade curricular desses cursos há uns anos e estamos trabalhando para modificá-la, tornando os egressos a deter uma visão holística da propriedade, exigência para trabalhar com SIPAs. No entanto, essas mudanças não são rápidas e nós só vamos conseguir medir os resultados em 2019”, disse (os pontos abordados pelo professor Dr. Adriel Ferreira da Fonseca durante a sua participação na Mesa Redonda estão ao final da reportagem).
Também debatedor do assunto, o professor da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Edemar Moro, defendeu a inserção da matéria SIPA em todos os cursos de agrárias. “Nossos alunos precisam usar esse período na academia para adquirir a maior quantidade de conhecimento possível, que nas SIPAs são bastante diversos e complexos. Com uma boa formação, o desempenho na implantação desses sistemas, que eles vão comandar, será muito mais eficaz”.
SUSTENTABILIDADE
Atmosfera é beneficiada com SIPAs
O tema “serviços ecossistêmicos” balizou as discussões do eixo temático 1 do I Congresso Brasileiro de SIPAs (Sistemas Integrados de Produção Agropecuária). A pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Patrícia Oliveira, apresentou como os sistemas são benéficos também para a atmosfera.
Na sua fala, Patrícia discorreu sobre o imenso potencial que os SIPAs com inserção de florestas têm para abater as emissões de gases do efeito estufa, principalmente o metano liberado pelos bovinos. “Não são somente esses potenciais. Os SIPAs conseguem garantir a retirada do CO2 da atmosfera, fixando na madeira ou no solo”, comentou. A capacidade de transformação alivia o efeito estuda, o aquecimento global e purifica o ar.
Logo em seguida, Carlos Nabiger, professor doutor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), falou sobre a importância da biodiversidade nos sistemas, não só das plantas, mas também do reino microbiótico, ou muitas vezes os componentes invisíveis aos olhos de muitos. “Toda e qualquer ação de produção agrícola deve estar atenta a isso. Os serviços ecossistêmicos funcionando bem provém diversos benefícios como infiltração e filtragem de água, bem como a polinização entre outros”, lembrou.
Além disso, Nabinger disse que é preciso ter esse conceito em mente não só para produção de comida, mas também para todos os horizontes. “Afinal, isso afeta diretamente todas as nossas atividades”.
O engenheiro agrônomo e doutorando no tema, Anderson Bicalho. Segundo ele, mesmo com os benefícios do sistema, para uma agricultura conservacionista é preciso ter esses cuidados. “Eles podem ser tão prejudiciais quanto são para as lavouras. Por isso é preciso analisar sua capacidade de multiplicação e realizar o monitoramento contínuo da área, solo e raízes. É preciso pensar nas plantas utilizadas, porque às vezes um modelo usado por outro não pode ser o ideal para a sua propriedade”, disse.
Sistemas Integrados
Produção animal e vegetal integrada é debatida no Congresso
Produção animal e vegetal foi o tema do eixo temático 3 do I Congresso Brasileiro de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, que está sendo realizado em Cascavel, no Centro de Convenções e Eventos da cidade. O congresso vai até o dia 24 e ainda contará com grandes atrações, como a palestra desta quarta-feira (23), às 10h20, com o Dr. Alan Franzluebbers, do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Na região subtropical do Brasil, que engloba os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o sul do Paraná, a principal oportunidade é a integração de lavouras de grãos na primavera/verão (soja, milho, arroz, feijão entre outros) e cultivo de pastagens no outono/inverno (aveia preta, azevém, ervilhacas entre outros). Já nas regiões tropicais em que há predomínio de solos com alto potencial de produção, uma oportunidade é a integração da soja com pastagens anuais de braquiária. Em regiões muito quentes com solos arenosos, em que há predomínio de pecuária extensiva, a inserção da soja pode ser uma alternativa para a intensificação sustentável.
Quem falou sobre esses e outros assuntos foi o engenheiro agrônomo, doutor em produção vegetal e pesquisador da Embrapa Soja, Alvadi Balbinot. “É necessário aumentar a diversificação dos sistemas de produção, tanto no aspecto biológico quanto econômico. Os principais modelos de integração lavoura-pecuária que podem ser utilizados no Brasil em larga escala”, disse. Para ele, aderir aos sistemas integrados é uma grande oportunidade para produzir mais e melhor. “Quando planejado e executado adequadamente pode se refletir em ganhos econômicos e ambientais, importantes para uma agricultura sustentável”, garante.
Logo em seguida, o professor Paulo de Carvalho, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), deu uma palestra. A fala dele partiu da indagação: seria o processo de pastejo gerador de propriedades emergentes em SIPAs? Segundo ele, a resposta é sim. “Temos várias evidências obtidas nas pesquisas que comprovam isso. Entre elas a resiliência, a eficiência, autossuficiência e a robustez química”, detalhou.
A resiliência é uma característica que leva em conta como o sistema integrado emergente lida com situações adversas. De acordo com Paulo, ele garante uma tranquilidade na parte econômica, já que evita a dependência ou frustação de uma safra, por exemplo.
Na eficiência, o professor mostrou que os experimentos comprovam que se produz mais grãos com menos nutrientes no solo. Já a robustez química ocorre porque substâncias tóxicas na lavoura de grãos, como o alumínio, tornam-se menos problemáticas em sistemas emergentes. “O componente fica menos tóxico, o seu tipo e complexação também mudam”. Quanto à autossuficiência, Paulo de Carvalho disse que ela ocorre porque se produz mais com menos insumos e também defensivos, como a diminuição da dependência do glifosato.
Por fim, o pesquisador da Embrapa Florestas, Vanderley Porfírio da Silva discorreu sobre o papel das árvores nos sistemas integrados. Para ele, o produtor interessado, antes de plantar, deve planejar e saber o que espera das árvores. “Não dá para plantar e decidir depois o que fazer. Por exemplo, de que adianta querer produzir madeira para vender às serrarias e plantar mil exemplares por hectare?”, questionou.
Com um projeto adequado, as árvores podem ser benéficas ao ambiente produtivo. “Além de garantir conforto térmico, bem-estar animal e proteger das intempéries, esse cenário positivo garante um melhor desempenho animal e o produtor pode ainda vender a madeira”, concluiu.
Ensino de SIPA nas Universidades: Experiência da UEPG
Durante a sua participação em Mesa Redonda, o Dr. Professor Adriel Ferreira da Fonseca abordou a situação dos cursos de agronomia e zootecnia da UEPG. Em sua apresentação exemplificou de forma clara os pontos corrigidos e as expectativas em relação as mudanças implementadas para os respectivos cursos. Clique na figura abaixo e confiram a apresentação.